A voz do silêncio

Koe no Katachi é um anime, baseado no mangá (história em quadrinhos) homônimo, que tem como personagens principais Shōko Nishimiya, uma garota surda, e Shoya Ishida, seu ex-colega de escola.

Durante muito tempo, Shoya fez de Shōko o principal alvo de suas chacotas, ao ponto de fazê-la mudar de escola. No entanto, o garoto também passa a sofrer “bullying” dos rapazes do colégio, ficando isolado e chegando a cogitar um suicídio. Mas uma guinada se dá quando Ishida, anos depois, reaproxima-se de Shōko, arrependido, travando com ela uma amistosa relação – e, para estar próximo, dedica-se a aprender a língua de sinais, estreitando (e tensionando) os laços que os unem. Uma paixão aviva o reencontro, esboçando um dos motes da história.

Para assinantes, o anime está disponível na Netflix. Abaixo, trailer de “A voz do silêncio”. Para ver post sobre o mangá que originou o filme, clique aqui.

  
A voz do silêncio
  


Categoria: Filmes (Anime)
País: Japão
Ano: 2016
Título: “A voz do silêncio” (“Koe no Katachi”)
Línguas: Japonês e Japanese Sign Language (日本手話)


 

Bell Sign

Dai Igarashi, gerente de um pequeno bar no distrito de Ginza, Tóquio, chama a atenção pela forma como se comunica com funcionários e com alguns clientes que se sentam ao balcão. Surdo, Igarashi aprendeu a Língua de Sinais Japonesa, hoje a sua primeira língua, no ensino secundário, e por meio dela atende grande parte dos surdos e ouvintes que frequentam o local – o bar Ginza Bell Sign, inaugurado em 2012 na capital japonesa (fonte: The Japan Times).

Mantido pela RyU Corporation, o bar – localizado em uma das mais badaladas regiões de Tóquio – emprega outros funcionários surdos e já se tornou um movimentado ponto de encontro das comunidades surdas do país.

Aos sábados, o Bell Sign costuma realizar festas em que karaokes sinalizados dividem a noite com músicas e canções nacionais, reunindo até vinte pessoas (a lotação máxima da casa), surdas e ouvintes, em animados encontros.

Aqueles que não dominam a língua gestual do país podem se comunicar com atendentes ouvintes, arriscar-se com alguns sinais básicos ensinados pelos bartenders surdos ou recorrer a pequenas lousas disponíveis no salão.

Mais um empreendimento deaf friendly entre bares e cafés da Terra do Sol Nascente (para conhecer outros empreendimentos do tipo, clique aqui).

  
Ginza Bell Sign
  


Categoria: Bares e Restaurantes
País: Japão
Línguas: Japonês e Japanese Sign Language (日本手話 )


 
  

Hideto Noritomi

Quando pequeno, Hidehito (Hideto Noritomi) era proibido de sinalizar: na escola para surdos onde estudava, em Tóquio, seus professores lhe diziam que se usasse sinais, em vez de praticar a fala, sua voz ficaria parecida à de um animal (fonte: Deaf Japan). Assustado, o jovem surdo conversava em língua de sinais às escondidas, longe dos olhares punitivos de seus mestres.

Em 1996, já mais velho, Noritomi viajou à França, onde aprendeu técnicas de pintura a óleo – dois anos mais tarde, começava a produzir suas telas. Desde 2004, o artista plástico residente em Kumamoto se dedica à Arte Surda e por meio dela expressa a sua luta pela valorização do Ser Surdo e das práticas culturais das comunidades surdas.

Hideto também publicou um livro (com ilustrações suas) intitulado “Shuwa de Ikitai”, que – como um libelo contra a opressão ouvintista – destaca a importância e as riquezas da língua gestual.

Aos 45 anos, Hideto Noritomi é pai de Kazuchi, um menino surdo que, a reverberar o ativismo presente em sua casa, estuda em escola para surdos e sinaliza desde pequenino.

(Clique aqui para ver outra obra de Noritomi).

 
Hideto Noritomi
 


Categoria: Artes Plásticas
País: Japão
Obra: “手話を奪われてても手話の心まで奪われることはない”
Línguas: Japonês Japanese Sign Language (日本手話)


 
 

Chisato Minamimura

Radicada no Reino Unido, a dançarina e coreógrafa japonesa Chisato Minamimura é uma das grandes artistas surdas contemporâneas. Após estudar na Laban Dance Centre (Londres), Minamimura retornou ao Japão, onde, além de dar aulas de dança, concluiu um mestrado na Universidade Nacional de Yokohama.

Ex-integrante da CandoCo Dance Company, Chisato percorreu mais de quinze países com apresentações, oficinas e residências artísticas, contribuindo para uma série de grupos e companhias.

Por meio da dança contemporânea, a coreógrafa surda subverte as exigências do mundo sonoro: “indagada sobre como consegue dançar se não consegue ouvir, Minamimura dá a volta à pergunta e rebate: o que é música? Ela diz não saber o que é e dá uma interpretação própria por meio de sua dança, que denomina música visual. (…) Posso sentir a música por suas vibrações, mas isso não tem nenhum significado para mim. Tenho perguntado a pessoas o que é a música, mas ninguém consegue, de fato, responder-me. Para mim, o vento a soprar ou uma torneira a gotejar são como músicas visuais. Mas não estou certa se o meu conceito de música visual é algo que eu possa partilhar com pessoas ouvintes” (retirado de Japan Times).

Suas performances exploram a visualidade de gestos, movimentos e sons, trazendo à tona novas formas de se pensar e realizar a dança. Abaixo, apresentação de “New Beats”, performance criada e coreografada por Chisato Minamimura (clique aqui para assistir a uma entrevista com ela).

 
Chisato Minamimura
 


Categoria: Dança
País: Japão / Reino Unido
Línguas: Japonês, Inglês e British Sign Language (BSL) 
Site oficial: http://chisato.h-and-c.jp


 

Mamoru Samuragochi

Há quase vinte anos, o compositor japonês Mamoru Samuragochi começou a perder a audição. Mesmo surdo, continuou a compor, conquistando um enorme sucesso. De trilhas de games (como Resident Evil e Onimusha) à “Sinfonia Nº1, Hiroshima” (uma homenagem às vítimas da bomba atômica), suas obras lhe renderam o epíteto de “Beethoven Japonês” – em alusão ao famoso compositor alemão do séc. XVIII, também ensurdecido.

A notoriedade de seu trabalho realizado sem a (suposta) condição primeira para a composição – a audição – fez com que, aos olhos de muitos, o seu brilhantismo fosse ressaltado. Em várias entrevistas, Samuragochi atribuiu a perda de audição a um presente dos deuses: “se você confiar em seu senso musical interior, você cria algo mais verdadeiro. É como comunicar-se pelo coração” (fonte: The New York Times).

Sua genialidade reverberava por vários países, até que, no início de 2014, toda a popularidade ruiu: em comunicado à imprensa, o compositor surdo confessou que, desde a década de 1990, as composições que o alçaram para a fama não eram de sua autoria – foram, na verdade, escritas por Takashi Niigaki, professor de música de uma universidade de Tóquio. A fraude foi confirmada pelo próprio Niigaki, que admitiu ter recebido, ao todo, quase R$ 80 mil reais para compor mais de vinte peças musicais em todos esses anos.

Além da farsa na autoria das obras, muitos (entre eles Niigaki) questionam a surdez do “Beethoven Japonês”, sugerindo que a sua alegada condição de surdo lhe falseava um status de gênio, o que aumentava o seu reconhecimento. Depois de quase vinte anos, desmorona a reputação – e a credibilidade – de um dos poucos “compositores surdos” da atualidade.

 
Mamoru Samuragochi
 


Categoria: Músicas por surdos
País: Japão
Línguas: Japonês Japanese Sign Language (日本手話)