Selo comemorativo – Robert Panara

Entre os mais jovens, provavelmente haverá muitos que nunca colaram um selo postal em uma carta. Carta? Para os nativos digitais da Geração Z, as cartas perderam espaço para a comunicação direta e imediata das redes sociais. Mas eles – os selos – resistem, firmes, para além das coleções de filatelistas, em milhões de correspondências trocadas diariamente em todo o mundo.

Há poucos anos, nos Estados Unidos, um proeminente professor surdo foi homenageado em selo, com um retrato seu a sinalizar “respeito” em American Sign Language. O selo, impresso pelo Serviço Postal dos Estados Unidos (U.S. Postal Service – USPS), faz parte de uma série intitulada Distinguished American, que homenageia “cidadãos estadunidenses que deixaram sua marca na sociedade norte-americana”. Desde o ano 2000, menos de vinte personalidades foram agraciadas com tal deferência – entre elas, o virologista Albert Sabin e a escritora Edna Ferber.

Robert Panara, um dos pioneiros dos Estudos Surdos do país, foi, em 2017, a 16º pessoa a receber essa honraria (veja aqui outros nomes da coleção).

Panara (1920-2014), surdo desde criança, formou-se pela Gallaudet University em 1945 e, depois de trabalhar como professor de ensino básico na New York School for the Deaf, retornou à Gallaudet em 1948, onde lecionou no departamento de Língua Inglesa (por um período, ao lado de William Stokoe, famoso pesquisador ouvinte das línguas de sinais). Chama a atenção o fato de Panara ter sido o primeiro surdo a conquistar o grau de mestre na Universidade de Nova Iorque, ainda na década de 1950 – fato louvável para a época.

Um de seus grandes feitos, no entanto, que marca também seu nome na história das comunidades surdas americanas, foi sua importante participação, no final dos anos 60, na criação do National Technical Institute for the Deaf  – NTID (Instituto Técnico Nacional para Surdos), centro de ensino superior de referência ligado ao Rochester Institute of Technology (RIT), em Rochester (NY), onde Panara se destacou como um de seus primeiros – e mais importantes – professores surdos.

Em sua trajetória de mais de 40 anos de docência, entre a Gallaudet University e a NTID, Panara dividiu com alunos surdos e ouvintes a sua paixão pelo teatro e pela literatura, áreas em que provou a imensa potência da experiência surda e da língua gestual.

Hoje, o selo que leva a sua imagem é – como chamado nos EUA – um “selo eterno” (“forever stamp“): independentemente do reajuste do valor das tarifas, ele valerá sempre para o peso indicado – hoje ou daqui a dez anos. Assim como o trabalho de Robert Panara para as comunidades surdas americanas, que jamais perderá valor.

Clique aqui para assistir a Panara performando poemas em ASL, em gravação de 1974; aqui para assistir a uma entrevista com ele, em 1972, sobre projetos de teatro na NTID; e aqui para assistir à cerimônia de lançamento do selo na NTID. Quer comprar o selo direto do site da USPS? Clique aqui.

  
Selo - Robert Panara
  


Categoria: Outros
País: Estados Unidos
Línguas: Inglês e American Sign Language (ASL)


 

Lauren Ridloff – The Walking Dead

Atenção: alerta vermelho de spoiler! Este post contém informações sobre a 9ª e a 10ª temporada da série The Walking Dead (TWD).

Na trama pós-apocalíptica protagonizada por um pequeno grupo de sobreviventes, uma surpresa: a partir da 9ª temporada, uma personagem de destaque – surda usuária da American Sign Language – se juntará ao elenco central. Eis Connie, interpretada pela atriz surda Lauren Ridloff.

Resgatada pela pequena Judith Grimes (filha de Rick Grimes), ao lado de seus amigos Magna, Yumiko e Luke e de sua irmã Kelly, Connie passa a morar na comunidade de Hilltop e a participar de várias incursões contra os “vilões” da série, ganhando espaço entre os personagens principais.

Por meio de Connie, a surdez é positivada em TWD, não sendo assumida como um impeditivo para a sobrevivência em um mundo tão hostil. Se sua audição não está disponível para lidar com as ameaças de uma realidade sanguinolenta, sua acuidade visual e sua sagacidade a tornam extremamente hábil para se safar e salvar seu grupo, combatendo corajosamente com o seu bodoque (atiradeira) os mortos e os vivos. Como diz a personagem: a surdez é um super-poder.

Walking Dead 01

Para além do deaf gain, a língua de sinais, mesmo que em diálogos específicos, é posta em cena, chamando a atenção de milhões de fãs e espectadores para esse tipo de comunicação. Ao seu redor, muitos personagens passam a aprender um vocabulário simples para interagir com ela, arriscando-se na American Sign Language (em uma cena, Daryl – um dos principais protagonistas de TWD – aparece com uma gramática de ASL no bolso). Quando os sinais não são compreendidos, Connie escreve em um pequeno caderno para se fazer entendida.

O que acontecerá com a sobrevivente/guerreira surda durante a décima temporada (spoiler!) tem deixado muitos fãs apreensivos, à espera de qualquer nova notícia.

Na “vida real”, sem zumbis ou sussurradores, Lauren Ridloff já brilhava no teatro antes de fazer parte do elenco de TWD (2018). Nesse mesmo ano, Ridloff foi indicada ao Tony Awards – uma das principais premiações do teatro norte-americano – como melhor atriz por sua participação na peça Children of a lesser God  / Filhos do Silêncio (assista a trechos, clique aqui).

Lauren Ridloff (Lauren Teruel) nasceu em 1978, em Chicago, em família de pais ouvintes. “Por um tempo, pensei que pessoas surdas não se tornavam adultas, porque eu nunca tinha visto qualquer surdo mais velho (…). Meu pai é mexicano e minha mãe é afro-americana – comigo, eles tiveram a intuição de que eu deveria ter um forte senso de identidade” (retirado de The Oprah Magazine). Enviaram-na, então, para estudar em Washington D.C., distante de sua casa.

Foi quando, no ensino médio, aproximou-se das comunidades surdas ao ingressar no Model Secondary School for the Deaf, na capital do país. Após o colégio, ingressou na California State University, onde se formou em Letras-Inglês. Em 2005, concluiu o mestrado em Educação e, como já fazia ao fim de sua graduação, continuou a atuar como professora, dessa vez em uma escola pública de Nova Iorque (nota: no início dos anos 2000, Lauren ganhou projeção entre as comunidades surdas dos EUA por vencer o Miss Deaf America, um dos principais concursos de beleza surda do continente).

Sua estréia na peça Children of a lesser God deu-se quase de maneira fortuita: para adentrar no mundo surdo, Kenny Leon, o diretor da peça, começou a ter aulas de Língua de Sinais Americana. Sua professora? Lauren Ridloff. Depois de um ano, Joshua Jackson, ator canadense, já estava escalado para o papel principal, mas ainda faltava encontrar uma atriz surda para contracenar com ele. Foi então que Kenny convidou sua professora de ASL para assumir o papel – e o retorno foi tão positivo que Lauren Ridloff foi indicada a diversos prêmios por sua atuação. No mesmo ano, a atriz já estava selecionada para participar das próximas temporadas de The Walking Dead.

Walking Dead 02

Em tempo: a irmã de Connie em TWD, Kelly, que atua como sua intérprete em tempo integral, é representada pela atriz Angel Theory. Após um acidente de carro, Angel começou a perder a audição, e essa condição (atenção, mais spoiler!) também foi transportada para a série: em The Walking Dead, Kelly se vê assustada por estar ensurdecendo. “Quando eu penso em minha história sendo representada por meio da Kelly, lágrimas caem dos meus olhos (lágrimas de felicidade!), porque isso me lembra o quanto Angela Kang (roteirista), os autores e a AMC confiaram em mim desde o começo”, diz Angel. “Eles poderiam ter escrito qualquer coisa que encontrassem no Google, mas, ao contrário, me consultaram e dedicaram tempo para entenderem as coisas boas, as coisas ruins e o que há nesse meio-termo” (retirado de Distractify).

Na cena abaixo, o espectador experimenta, em primeira pessoa, a surdez de Connie durante um ataque de zumbis (efeito até então inédito na série). Clique aqui e aqui para assistir a uma entrevista com Lauren Ridloff.

 
Walking Dead 03
 


Categoria: Performers 
País: Estados Unidos
Línguas: Inglês e American Sign Language (ASL)


 

Dandelions

Na obra “Dandelions”, ou “Dentes-de-leão”, em tradução livre, Clayton Valli (1951-2003), um dos principais poetas surdos dos Estados Unidos, traz ao poema a delicadeza e a resistência dos dentes-de-leão, cujas sementes voadoras encantam os campos e as lembranças de muitos. Apesar da ação predatória de um homem, a planta se refaz em (e na) poesia.

  
Dandelions
  


Categoria: Poesia em Língua de Sinais
País: Estados Unidos
Poema: “Dandelions” (“Dentes-de-leão”)
Línguas: Inglês American Sign Language (ASL)


 
  

Shawn Dale Barnett

Shawn Dale Barnett, o “Big Pappa Bear” (“Grande papai urso”), foi um dos grandes bateristas surdos a entrar para a história da música.

Barnett nasceu surdo em abril de 1963, e desde cedo estudou na Escola para Surdos do Kansas (Kansas School for the Deaf), na região centro-oeste dos Estados Unidos. Ali, a despeito da descrença de seus colegas, o garoto provou a todos o seu talento como percussionista, dando os seus primeiros passos como músico profissional.

“Enquanto frequentava a Escola para Surdos do Kansas, em Olathe, Barnett era desencorajado de perseguir seus sonhos na música. Quando tentou contar a seus colegas sobre sua bateria, foi ridicularizado e agredido. Pouco antes de se formar, em 1981, ele pôde convencê-los. Em um bar chamado “Clown”, Barnett apostou que poderia tocar bateria com a banda da casa – o gerente concordou, e ele estremeceu o local! O rapaz, então, foi embora com os 20 dólares ganhos na aposta e a convicção de que poderia ganhar a vida tocando bateria. A partir daí, ele se considerou um profissional” (retirado de Workers for Jesus).

Desse dia em diante, Barnett trilhou uma trajetória invejável. Realizou turnês por diversos estados dos EUA, tocou com músicos que anos mais tarde formariam a famosa banda  de rock Alice in Chains e abriu shows de grupos como Skid Row, L.A. Guns, REO Speedwagon, Warrant e Nirvana. Em 1987, uma música de sua autoria atingiu o Top 10 da MTV e a #7 na Billboard – um feito inédito no mundo surdo. 

Durante a década de 1990, Shawn voltou-se de corpo e alma para as comunidades surdas, onde passou a se dedicar ao ensino e à promoção da música (atribui-se a ele os primeiros usos do termo “Deaf Music” – Música Surda”). Entre surdos e ouvintes, Shawn Dale Barnett foi mais um a afirmar que a música não é um território exclusivo para aqueles que ouvem, e fez de sua vida a prova mais inconteste desse fato.

O músico, produtor, compositor e ativista surdo morreu aos 40 anos, de câncer, em fevereiro de 2003.

 
Shawn Barnett
 


Categoria: Músicas por Surdos
País: Estados Unidos
Línguas: Inglês e American Sign Language (ASL)
Site oficial: http://shawndalebarnett.50megs.com


 
 

Marshmello

Conhecido por usar um “capacete” branco em forma de tubo (com dois X pretos pintados no lugar dos olhos), o DJ norte-americano Marshmello ainda provoca a curiosidade daqueles que lhe assistem: afinal, quem é o rapaz que se esconde por trás do casco?

Depois de lançar a música “Alone”, que chegou a integrar a Billboard Hot 100 e hoje conta com mais 1,5 bilhões de visualizações no Youtube (clique aqui para assistir), Marshmello consagrou-se entre os principais DJs e produtores de música eletrônica do mundo. Fãs afirmam que Marshmello é, na verdade, Chris ComstockDJ que se apresenta como Dotcom.

No videoclipe de “You can cry” (“Você pode chorar”), o próprio Marshmello aparece a sinalizar – em American Sign Language – ao lado da modelo surda Nyeisha Prince. Por todo o clipe, a língua de sinais ganha destaque nas mãos dos dois protagonistas.

 
Marshmello
 


Categoria: Clipes com sinais
País: Estados Unidos
Vídeo: “You can cry
Línguas: Inglês e American Sign Language (ASL)
Letra / Tradução: “You can cry” traduzido para o Português
Site oficial: https://marshmellomusic.com/